Termômetro de mercado
29/08/2017

As incertezas do mercado internacional de lácteos

O mercado internacional tem apresentado sinais que tornam difícil a tarefa de prever os preços futuros das principais commodities lácteas.
De um lado, a China parece ter voltado às compras. O gráfico 1 mostra a evolução das importações chinesas de leite em pó integral e desnatado (volumes mensais somados dos dois tipos de produtos)

Gráfico 1. Importações chinesas de leites em pó

Fonte: elaborado pelo MilkPoint Mercado, com base em dados do USDEC

O crescimento dos volumes de compra de leites em pó é de 11,4% entre janeiro e julho deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado. Chama a atenção, no entanto, o crescimento dos volumes nos meses de junho (+53% em relação a junho/2016) e julho (+77% em relação a julho do ano passado).

As compras chinesas também crescem quando observamos outros derivados lácteos. O volume importado de queijos cresceu, entre janeiro e julho, 20,8% em relação ao mesmo período do ano passado. As compras de soro (segundo item mais importante em volume na cesta de importação de lácteos da China) cresceram 12% no mesmo período e a aquisição de manteiga subiu 6,9% em volume.

Ao mesmo tempo a produção de leite começa a reagir nos principais mercados produtores e exportadores de leite do mundo, principalmente em função do aumento dos preços do mercado internacional. A tabela 1 mostra o crescimento da produção este ano em relação ao ano passado e o efeito de aceleração que este crescimento da produção vem ganhando em alguns mercados.

Tabela 1. Crescimento da produção de leite (2017/2016) em alguns mercados

Fonte: elaborada pelo MilkPoint Mercado, com base em diferentes fontes

Alguns pontos importantes chama a atenção:
• Para nós, brasileiros, o forte crescimento no Uruguai (tanto na variação acumulada quanto no mês de julho) e na Argentina (que vem recuperando-se de uma situação difícil em seu mercado interno) deve ser monitorado de perto. O Mercosul é a principal fonte de derivados lácteos importados pelo Brasil2016/2017

• Na Nova Zelândia, a produção de junho deste ano (primeiro mês da safra 2017/2018) é 20,4% maior do que a do mesmo mês de 2016, o que pode sinalizar bons volumes de leite vindos daquele país na nova safra que acaba de começar.

• Até mesmo na União Europeia, onde a produção acumulada de janeiro a junho ainda apresenta queda (de cerca de -0,7% em relação ao mesmo período de 2016), a produção mostra inversão de tendência e os volumes de junho são 1,7% maiores do que os de junho/2016

Assim, no “fritar dos ovos”, a situação do mercado internacional ainda não tem uma clara definição de tendência. Se, de um lado, a reação chinesa nas compras de lácteos apontam para um cenário de pressão altista de preços, do outro o aumento generalizado da produção e os níveis (ainda bastante elevados!) dos estoques mundiais (principalmente de leite em pó desnatado, na Europa e nos Estados Unidos) ajudam a pressionar as cotações para baixo. Por isso mesmo, espera-se que, ao menos nestes próximos meses, os patamares de preços internacionais não se alterem dos atuais níveis, entre US$ 3.000 a US$ 3.300/ton (referência para o leite em pó integral).